Mercado de carro usado: a reinvenção dos negócios
Neste complicado ano de 2016, a economia brasileira deve seguir remando contra a maré.
Enquanto a venda de veículos zero quilômetro fica à deriva neste mar de incertezas, o mercado de usados segue aquecido desde 2015. A principal causa é a venda de veículos com até três anos de uso, os chamados ” seminovos”, cujas vendas subiram mais de 25% em relação a 2015.
Segundo a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), mais de 2 carros usados são negociados para cada carro novo, o que nos leva a duas constatações: diante da crise o foco do consumidor mudou, mas os fabricantes de veículos ainda não despertaram para isso.
As áreas menos desenvolvidas dentro das concessionárias continuam a ser as de pós-vendas e de usados, justamente as que assumem cada vez mais um papel estratégico, não só do ponto de vista da rentabilidade, mas também da sustentabilidade em longo prazo. Um programa dedicado a seminovos e usados precisa ser considerado como uma alavanca para facilitar o desenvolvimento da marca e parte integrante da estratégia global das montadoras. E como isso funcionaria.
Quando pensamos num programa de seminovos, é normal fazer associação a uma imagem, materiais em um ponto de venda ou a venda de garantia. Mas o sucesso desse tipo de negócio vai muito além destas questões básicas. Os quatro fatores a serem considerados são: imagem, que visa aumentar a notoriedade; valor, um argumento para otimizar os preços de vendas; volume de vendas, uma forma de atrair clientes às concessionárias; concessionárias – profissionalismo e rentabilidade.
Há pelo menos 20 anos, Europa e Estados Unidos consideravam o veículo usado um “mal necessário”. Compra quem realmente precisa de um carro. Hoje, esse mercado faz parte da estratégia global das principais montadoras nessas localidades, que incluem cada negociação no resultado operacional geral.
Em um ano em que as vendas de seminovos e usados superaram as de modelos 0km, as montadoras conquistaram a oportunidade de oferecer ao consumidor um pacote completo de serviços e produtos adicionais e não apenas o carro. Mas é fundamental que suas concessionárias autorizadas tenham em mente que esse mercado pode ser superior aos negócios de veículos novos, permitindo um aumento da rentabilidade, do valor residual da marca e da retenção e fidelização de clientes.
E numa era em que a Internet é o cenário ideal na hora de buscar um veículo e fechar negócios, os sites das montadoras e concessionárias precisam se preparar para uma nova realidade: a de se comunicar com eficácia. Anúncios detalhados e atualizados, fotos que favorecem as características do veículo, preços de acordo com o mercado e retorno aos contatos feitos pelos interessados.
É impossível saber ao certo qual será o cenário econômico do futuro, porém a única certeza é que as vendas de seminovos irão assumir um papel determinante no setor automotivo, e investir nessa area está longe de ser um desperdício.
Miguel Silveira, diretor da DEKRA Automotive Solutions
Publicado originalmente em 21/06/2016.